
Por: Diego Giandomenico, PR
A minha história com o Olaria não tem nenhum capítulo especial que eu possa contar aqui para vocês. Nunca fui para o bairro, não passei pela sua famosa rua, nem tenho nenhum jogo marcante na memória. O que me faz escrever sobre o Olaria são duas coisas. A primeira é que desde criança há clubes que me chamam a atenção. Portuguesa Santista, Novorizontino, XV de Jaú, Desportiva Ferroviária, Ferroviária de Araraquara, América de São Paulo, Tuna Luso, Nacional-SP, Botafogo-PB e mais um monte. Normalmente são times lado b. O segundo ponto, que tem um pouco a ver com o primeiro, é que o Olaria lembra o meu time, a Juventus da Mooca. Os dois têm uma cor predominante junto com o branco, os dois têm seu estádio conhecido por nome de rua (Bariri e Javari – até rimam), São conhecidos por suas sedes sociais, são times de bairro que já ganharam divisões do campeonato brasileiro e estão encalacrados entre gigantes em suas metrópoles. Muitas coincidências, convenhamos.
Como um bom time de bairro, antes de contar a história do time, temos que contar um pouco do seu bairro. O nome Olaria já diz muito sobre sua origem. Ali, surgiu uma das primeiras olarias do Brasil e desde a construção das primeiras linha ferroviárias da cidade, o bairro foi chamado assim. O bairro, por ser distante do centro, tem seu próprio comércio e vida social, além de um clube de futebol, por que não?
O Olaria foi fundado em 1915 exatamente para representar o bairro em competições suburbanas Os seus fundadores são: Alfredo de Oliveira, Carolino Martins Arantes, Sylzed José de Sant’Anna, Elmano Jofre, Hermogêneo Vasconcellos, Manoel Gonçalves Boaventura, Isaac de Oliveira, Jaci de Oliveira e outros. A medida foi considerada ousada, já que o futebol na época ainda era algo da elite. No começo, os seus jogos eram mandados na Rua Leopoldina Rego. Suas cores eram preto e branco e o escudo original era um losango escrito OFC no centro, Olaria Futebol Clube. Porém, outras atividades foram incorporadas com o passar do tempo e isso mudou algumas coisas. Primeiro, o nome passou a ser Olaria Atlético Clube, as cores passaram a ser azul e branco, o escudo começou a ostentar, além do futebol, o tênis e o escotismo no mar, praticado na antiga praia de Maria Angu.

No começo, participou de divisões amadoras, porém quando efetivamente participou da primeira divisão nacional, acabou ficando ao lado de uma nova liga criada no Rio, a Liga Carioca de Futebol. Isso custou um bocado ao Olaria que quase foi extinto quando o campeonato ficou na mão da Federação. Suas atividades voltaram apenas em 1947, em alto estilo, já que foi inaugurado o seu estádio, o Alçapão da Rua Bariri. Nele, eles voltaram à principal divisão estadual, foram terceiros colocados no Campeonato Carioca de 73 (apesar dele estar em obras nessa época) e também conquistaram o seu maior título: a Taça de Bronze de 1981, o único nacional. Para ser bem sincero, seu único título de verdade. Mas ele é essencial para entender um pouco a história do Olaria, já que ele ganhou até um livro, escrito pelo jornalista Marcelo Paes, que narra a aventura do clube após 30 anos de conquista.

A Taça de Bronze estava em seu primeiro anos em 1981. Foram escolhidos 24 clubes de 18 federações. Quem conhece um pouco o futebol nacional, sabe que nessa época, um pouco graças ao governo militar, a primeira divisão nacional chegou a ter quase 100 clubes. Aos poucos começaram a perceber a loucura que era e organizou divisões. Como organização não é lá nosso esporte favorito, a competição rolou de 8 de março até 1º de maio. Nas duas primeiras fases o bom e velho mata-mata. A terceira foi uma enfadonha fase de grupos, com três times em cada chave. Ao final, o melhor de cada grupo se classificava e realizava a final.
Na primeira fase, o time comandado pelo histórico técnico Duque, enfrentou o Colatina do Espírito Santo. Na primeira partida, vitória fora de casa por 3 a 1. Na volta, empate em casa por 1 a 1. O suficiente para passar. Na segunda fase enfrentou o Paranavaí, que havia atropelado seu conterrâneo, o Madureira, na primeira fase. Mas o Azulão soube se impor vencendo as duas partidas por 2 a 0 em casa e 1 a 0 fora. Na fase de grupos, as coisas não foram simples. Dividindo a chave com São Borja do Rio Grande do Sul e Dom Bosco do Mato Grosso, o Olaria venceu nos critérios de desempate, já que todos no grupo acabaram empatados. Olaria venceu suas duas partidas em casa e perdeu as duas fora. Levou sorte pois São Borja e Dom Bosco empataram ambas as partidas, possibilitando a primeira colocação ao Azulão. Na final, enfrentaria o Santo Amaro, de Pernambuco. Vitória por 4 a 0 em casa e derrota por 1 a 0 fora. O Olaria se sagrava campeão da Taça de Bronze de 81 ou como Marcelo Paes escreveu em seu livro “um dos motivos de manter em pé o pequeno clube da Rua Bariri.”. Sem dúvida a conquista foi extremamente importante. Mesmo que o Olaria tenha disputado o Brasileirão de 73 e 74 e vencido o Santos fora de casa em uma oportunidade, uma conquista sempre lava a alma da torcida. O mais bizarro é que esse título não valeu acesso à Taça de Prata. Aliás, o campeonato foi descontinuado e só voltou a existir em 1988. Ou seja, o Olaria era o único campeão da Série C em oito anos de história de campeonato. O calendário brasileiro já foi bem maluco.
Depois disso, aos poucos, o Olaria foi perdendo sua força. Ainda participou mais quatro vezes (entre 2000 e 2003). Depois disso, veio o rebaixamento no estadual, em 2005. Voltou apenas em 2010, onde ganhou o troféu Mathias Andrade, uma espécie de campeão do interior que fazem em São Paulo e outros estados. Em 2011 voltou a ser campeão da mesma taça e chegou à semifinal da Taça Rio, perdendo para o Vasco. Em 2013, acabou sendo rebaixado e até agora não conseguiu voltar.

Mas o centenário clube da Rua Bariri não é feito apenas de títulos e vitórias, é feito de craques. Alguns grandes nomes passaram por lá. Antônio Lopes, Jair Pereira, Charles Guerreiro, Joel Santana, Pedrinho, Robert e dois mestres: Romário e Garrincha. O primeiro começou a sua história na Rua Bariri, marcando seus 7 primeiros gols de vida profissional. Já Garrincha terminou sua carreira jogando 10 partidas pelo Azulão e balançando as redes por uma vez. Ele não era mais o mesmo, mas virou ídolo para o torcedor do Olaria.

Atualmente na segundona carioca, o Azulão da Bariri tenta se reerguer. Me lembrando das semelhanças que tem com a Juventus, ela também está na segundona do paulistão, louca para voltar. Ambos são times de bairro, como o meu e o seu. E para um time de bairro, chegar onde chegaram não é nada mal. O Azulão da Bariri vai voltar e honrar o valoroso bairro de Olaria.

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